Executivos dos EUA tentam retardar envelhecimento com
hormônios
Segundo
médicos, terapia hormonal está cada vez mais popular entre homens de 30 a 69
anos, muitos deles executivos de Wall Street.
Executivos
e profissionais nos Estados Unidos vêm procurando um polêmico e caro tratamento
de reposição hormonal para combater efeitos normalmente associados ao estresse
e ao envelhecimento.
Com pouco
mais de 30 anos, o executivo americano J.G. começou a se sentir deprimido e
ansioso. Tinha dificuldades para dormir, sua libido já não era mais a mesma e,
por mais que se esforçasse na academia e cuidasse da alimentação, não conseguia
atingir os resultados que queria.
'O
trabalho também ia mal. Ter que lidar com o estresse, e a competição ampliava
os sintomas, quando não era combustível para eles', conta o executivo, que
pediu para não ter seu nome divulgado.
'Isso
acabava com o desejo e ambição de ser bem sucedido', disse.
Depois de
tentar tratamentos com antidepressivos e ansiolíticos, J.G. aceitou o conselho
de um colega de academia e começou a fazer reposição hormonal por conta
própria.
Mesmo sem
consultar um médico, experimentou tomar uma pequena dose de testosterona, um
hormônio secretado pelos testículos do homem e em menor quantidade pelos
ovários da mulher. Sua concentração no corpo masculino diminui com a idade e
devido a problemas de saúde.
'Tomei
minha primeira dose e, uau, pareceu que tudo deu uma volta de 180 graus', disse
o executivo à BBC Brasil.
Desconfiado
de que poderia estar sofrendo com os sintomas do declínio de testosterona em
seu corpo, procurou um médico. Após alguns exames, ele receitou uma terapia de
reposição hormonal.
Atualmente
com 40 anos, J.G. segue com o tratamento. Duas vezes por semana, injeta em si
mesmo pequenas doses de testosterona e garante que sua vida melhorou em vários
aspectos.
'Pergunte
à minha namorada modelo de 27 anos', brinca o executivo, que dirige uma
consultoria de administração de capital de risco em Nova York.
Apesar
dos elogios ao tratamento, alguns médicos têm dúvidas quanto à eficácia e
eventuais danos colaterais do uso de hormônios, que poderiam incluir câncer e
problemas no coração.
Hormônios
A deficiência de testosterona entre homens pode estar ligada a problemas
congênitos, doenças, estresse e efeitos colaterais de certos medicamentos.
Além
disso, a partir dos 30 anos de idade, inicia-se um declínio gradual da produção
do hormônio no organismo.
A maior
parte da testosterona utilizada em terapias de reposição hormonal é produzida
em laboratório a partir de vegetais como soja e inhame.
Embora o
tratamento mais comum para a deficiência de testosterona causada por problemas
de saúde seja a reposição hormonal, não há estudos conclusivos sobre a eficácia
da injeção do hormônio no combate a sintomas normalmente associados à idade.
Mesmo
assim, um grande número de médicos defende os benefícios do tratamento no
combate ao envelhecimento. Eles vêm oferecendo terapias de reposição hormonal a
pacientes que se queixam de fadiga, de dificuldades para perder peso, de concentração
e de redução da libido.
Entre
eles está Lionel Bissoon, que ficou conhecido por desenvolver um tratamento
para celulite e atualmente administra um programa de reposição hormonal para
homens e mulheres em sua clínica em Nova York.
Segundo
ele, até meados da década passada, a maior parte de seus pacientes era formada
por mulheres entre 45 e 69 anos. Mas a situação se inverteu. Atualmente, cerca
de 85% é de homens entre 30 e 69 anos, muitos deles executivos de Wall Street.
'As
maiores queixas dos homens são fadiga, cansaço e dificuldades de concentração.
Alguns reclamam de dores musculares. Muitos não têm interesse em sexo. Alguns
sentem que não são mais quem costumavam ser', disse Bissoon à BBC Brasil.
O médico
conta que, após uma bateria de exames, o paciente pode iniciar o tratamento. A
reposição hormonal pode ser feita por meio de injeções, adesivos ou via oral. O
próprio paciente aplica suas doses de testosterona.
'Eu
ensino meus pacientes a se aplicarem, é bem fácil. Não é possível para um
executivo ocupado ter que ir a um consultório para tomar uma injeção duas ou
três vezes ao mês, não é prático', diz.
Custos
O grande interesse dos homens por tratamentos de reposição hormonal não se restringe a Nova York.
Na filial
que serve os Estados americanos da Carolina do Sul e da Carolina do Norte da
rede de clínicas Cenegenics, por exemplo, 68% dos pacientes são homens entre 35
e 70 anos.
'Está se
tornando mais comum homens mais jovens, com pouco mais de 30 anos (procurarem o
tratamento)', diz Michale Barber, médica e diretora-executiva da Cenegenics
Carolinas.
Embora a
aplicação dos hormônios possa ser feita pelo próprio paciente, é necessário que
ele passe por um acompanhamento periódico por médicos e seja submetido a exames
regularmente, o que pode aumentar os custos do tratamento.
Para
realizar um tratamento hormonal de combate aos efeitos do envelhecimento na
Cenegenics, é preciso desembolsar em média US$ 1 mil por mês.
'Os
nossos pacientes estão pagando pelo acesso a médicos, fisiologistas,
nutricionistas e acompanhamento de laboratório', diz Barber.
Com 20
centros médicos espalhados pelos Estados Unidos e mais de 20 mil pacientes, a
Cenegenics usa como garoto-propaganda o médico Jeffry Life, que atua na empresa
e é paciente do programa de combate aos efeitos do envelhecimento.
Para
mostrar os resultados do tratamento, a empresa usa fotos e vídeos ao estilo
'antes e depois' de Life. Na primeira foto, o médico aparece com um corpo comum
para um homem de meia-idade. A outra é uma dessas imagens que à primeira vista
parecem montagens (a empresa garante que não é) e mostra a mesma pessoa com um
corpo de fisiculturista.
Câncer
Apesar dos efeitos aparentemente milagrosos, ainda restam dúvidas sobre a segurança dos tratamentos de reposição hormonal para combater os efeitos do envelhecimento em homens saudáveis.
Embora os
médicos adeptos da terapia garantam que ela é segura e pode prevenir doenças,
outros apontam que ela pode estimular o desenvolvimento de câncer de próstata e
causar problemas cardíacos.
Além
disso, pesquisas apontam entre os possíveis efeitos colaterais do tratamento
atrofia dos testículos e infertilidade, problemas hepáticos, retenção de
líquidos, acne e reações de pele, ginecomastia (crescimento anormal das mamas
em homens) e apneia do sono.
Embora
tratamentos do tipo estejam sendo utilizados nos EUA desde a década de 1990, há
poucos estudos amplos sobre seus efeitos e riscos.
Em 2009,
o National Institute of Health dos Estados Unidos deu início a um amplo estudo sobre
os efeitos do tratamento de reposição de testosterona em homens acima de 65
anos. Os primeiros resultados, no entanto, devem ser divulgados só em junho de
2015.
Enquanto
isso, um relatório publicado em 2004 pelo Instituto de Medicina da Academia
Nacional de Ciências dos Estados Unidos, órgão de consultoria do governo
americano, alerta para a falta de pesquisas conclusivas sobre o tema.
'Apesar
da crescente popularidade do tratamento com testosterona, não há uma quantidade
considerável de dados que sugiram a eficácia da terapia de testosterona em
homens mais velhos que não se encaixam na definição clínica de hipogonadismo.
Além disso, os efeitos da testosterona na próstata e suas implicações para o
câncer inspiram cuidados no uso não terapêutico extensivo', diz o documento.
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